Saturday, September 19, 2009

Mergulhei fundo...

Sábado, pós meio dia. Estou em casa. Sozinha. Não sei se é porque o carro não está na garagem, me deu vontade de correr. Correr no sentido de exercício mesmo. A vontade sempre vem quando eu coloco barreiras, porque eu bem que poderia sair correndo pela rua. Mas não... quando a vontade vem é: "Quero ir correr no clube, mas tô sem carro".

Sonhei essa noite que estava saltando. Saltos Ornamentais. O esporte da minha vida. O refluxo da memória. Sempre penso nele. Nunca estou nele. Não me livro dele. Só sonho. Pratiquei por 10 anos, seis vezes por semana, 300 dias por ano. Era "atleta" e AMAVA me ver assim. Tive que parar por problemas no joelho. Mas eu iria parar de qualquer maneira porque chegava a hora do vestibular e naquela época ninguém vivia de saltos. E eu também não me via saltando e fazendo faculdade. Eu não queria fazer nada voltado ao corpo ou saúde, só pensava em Humanas.

Mas ficou um fantasma na minha cabeça. Um fantasma que hoje eu já entendo, mas ainda não superei. O corpo refletiu, e ainda reflete, minha insatisfação. Sou tão feliz em todos os aspectos da minha vida, então não sei dizer exatamente onde está a insatisfação. Se tivesse oportunidade de voltar a saltar, eu voltaria? Acho que não. Tirar todos aqueles saltos de novo? Eu morria de medo dessa parte. De tirar um salto novo. ("Tirar um salto" era fazer um salto diferente pela primeira vez, como na ginástica olímpica, por exemplo). O medo era tanto que até tive gastrite aos 15 anos. Do que era o medo? Não sei. Doia cair errado ("chapar", como dizíamos), mas não era esse o meu medo.

Sempre admirei os ex-saltadores, mais velhos que eu, que de vez em quando íam ao clube e davam uma brincadinha, como se nunca tivessem parado (minha irmã faz isso). E meu técnico sempre dizia que era como aprender a andar de bicicleta. Eu, quando parei, não pisei num trampolim. Nunca mais. Nem cheguei perto, porque doia forte, e no fundo.

Acordo e vejo um filme de um cara ex-atleta que é mais velho e se realiza em outro esporte. Ele tinha muitas noias como a minha (é "noias" mesmo, perdeu o acento). Não superou o rótulo de ex-atleta. Não dá pra ser atleta pra sempre? O meu corpo não reflete. Por isso que acordo às vezes e tenho essa energia dentro de mim, que quero colocar pra fora. Porque o corpo foi tanto daquele jeito, e não entende essa dinâmica do meu dia a dia atual. Dinâmica na cabeça, pro corpo, zero.

O grande dilema da minha vida não é aprender a ser dona de casa, a ser boa esposa, a vencer profissionalmente, a desenvolver o sentimento materno. Meu grande lance é lidar com o fato de que não sou mais atleta. E que não consigo voltar a ser. Pessoalmente, não consigo me enxergar sendo atleta porque frequento uma academia. É o conceito no sentido de compromisso, de treinar, de ter que dormir cedo, de competir, e de vencer, claro. Minhas medalhas e trofeus (tb perdeu o acento) ficaram na casa dos meus pais quando eu casei. Não tenho nenhum maiô. Só um canebo (uma toalhinha de borracha dos saltadores).

Tudo o que eu tenho hoje, são meus sonhos. Literalmente falando, pois estou falando de quando sonho que estou saltando. Muitos ex-saltadores sentem isso. Eu já perguntei.

Meu técnico continua lá. Imagine pra ele ter visto gerações e gerações de atletas darem a vida aos saltos, e depois pararem, porque no Brasil era completamente inexistente o conceito de viver disso. Sorte para os novos que já melhorou - tem gente que vive disso hoje em dia. Mas são uns 10 só, que eu conheço. Sete da minha época. Irônico, né? Eu poderia ter continuado? X.

Se eu puder traçar um plano na minha mente nesse momento, então vamos lá: Um dia, not so far away. Vou ao clube, dar um beijo no meu técnico, subir no trampolim e fazer um salto. Nada muito elaborado. Minha irmã já me lança coisas doidas da plataforma de 10m. Acho que eu quebraria o braço a essa altura.

Eu estou acima do peso. Fui no médico e ele disse. "Vai ser fácil pra você emagrecer. Você tem uma estrutura muscular muito boa, de atleta". Nossa, como foi bom ouvir. Tipo, por baixo das gordurinhas, tem uma atleta. Então... acho que estou caminhando pra unir a Delta T com a Delta P, a casada. Acho que eu serei mais feliz ainda!

Com toda a confusão mental que me causou, quero muito que meus filhos sejam atletas. É muito bom. Muito mesmo. É 50% do que sou. Ou eu inteira, apesar de disfarçada.

Ainda estou com vontade de correr. Será que hoje é o dia? Depois eu conto.

Delta

4 comments:

Nat Jonas said...

Espero que tenha corrido amiga.. Correr é bom.. nem que sejam cinco passos... nem que seja na idéia.
Quando voc6e falou dos seus sonhos com saltos, lembrei dos seus sonhos com água.. alguma relação será?
Sei como é sentir falta de alguma coisa.. e pensar como seria se não tivesse parado naquela época ou por aquele motivo.
Acho que na real, tudo muda mesmo sabe? Eu parei com o balet por X motivos que hoje não me parecem tão ótimos.. ams se não fosse por eles.. não seria por outros?
Importa o quw ficou.. você tem a estrutura e a mentalidade de atleta. Acho que isso é o que fica, o que a gete pode guardar pra sempre independentemente de idade, atividade ou sei lá o que..
I eo comment virou quase que um post! )
Amo.. saudade.. bjo, N.

Foxtrot said...

Amiga...
Que post lindo!!!
Acho que todas passamos por isso... De sentir falta de algo... E também de passamos por mudanças...
Amo vcs!
Bjo

Delta said...

Nossa, que post enorme que eu fiz hein? Foi do fundo da alma.. todas nós temos tudo isso né?
Amo vocês!

Gi said...

AMEI.